O Alex Nogués e o Guridi falam do nascimento de PARCO

Perguntámos ao Alex Nogués e ao Guridi como nasceu o PARCO, e aqui têm as suas respostas e reflexões. Um escritor da Catalunha e um artista de Sevilha põem-se de acordo e fazem uma proposta atrevida, lúcida, emotiva, que lançam abertamente no facebook, a ver “se há algum editor na sala”. A AKIARA aceita o desafio.

Como nasce o Parco?

ALEX: O Parco nasceu de uma conversa digital com o Guridi. Já tínhamos vontade de trabalhar juntos há muito tempo e havia alguns textos que estavam guardados para ele, à espera do momento certo. Um dia pediu-me para escrever um texto sobre um “morto pequenino”. Alguma coisa festiva, que não partisse do ponto de vista de nenhuma religião. Eu já andava a tentar escrever sobre a morte há algum tempo. Precisava de um “clique”, que esse dia chegou.

GURIDI: A morte sempre foi um dos meus maiores medos. Sou uma pessoa muito vital e a ideia da não-existência sempre me provocou muita inquietação. Com o Parco queria ultrapassar esses medos e acho que o Alex captou a ideia desde o início. Para mim, o texto dele foi revelador e muito, muito terapêutico.

Porque é que queriam trabalhar juntos?

A: Esta pergunta é muito fácil para mim. Quem é que não gostaria de trabalhar com um ilustrador com o talento e a sensibilidade do Guridi?

G: O Alex é um dos escritores de álbum mais espetaculares que conheço. Em cada palavra, em cada silêncio é capaz de transmitir sentimentos incríveis, para além de eu achar que temos em comum o amor por muitas coisas.

E como foi o processo de ilustrar este livro?

G: Muito complicado: criar com pouco, trabalhar com aspetos que estão na mente de muitos, lidar com o espírito da aldeia, situar cada cena e brincar com os tons negros. Demorei muito tempo para decidir o tratamento da cor e o traçado, mas uma vez conseguido, o resto fluiu rapidamente.

Porque é que é tão mexicano?

A: Foi quase inevitável. Se juntares as palavras Morte e Festivo, o México aparece na tua cabeça e já não sai de lá.

G: Porque o espírito mexicano da morte era necessário de modo a direcionar a história para o positivo e não para a tragédia.

Há muitas pessoas que não querem falar sobre a morte com os mais pequenos. É um tabu da sociedade atual?

A: É um tabu, sem dúvida. E é estranho. A morte é uma coisa dos vivos e deixamo-la toda para os mortos. A sociedade técnico-científica matou os deuses e não construiu uma espiritualidade alternativa. Devíamos olhar para a natureza e contemplar a dança da vida e da morte, que explica tudo.

G: Amén!

Para terminar, como deve ser um bom álbum ilustrado?

A: Um bom álbum ilustrado deve conter alguns ingredientes comuns com um bom livro. Ou seja:

• Que emocione os autores e os leitores;
• Que o leitor lamente tê-lo acabado;
• Que lhe doa um bocadinho ao separar-se dele;
• Que os autores e os leitores percebam que, nalgum aspeto, mudaram;
• Que as palavras provoquem cócegas aos leitores nalgum momento, que a linguagem o surpreenda de algum modo.

Mas tem também os seus próprios ingredientes que devem ser respeitados:

• A ilustração e o texto devem brincar um com o outro, e o leitor com eles;
• O ponto de vista da ilustração deve ser surpreendente;
• Entre o texto e a imagem deve-se construir um mundo que vá mais além daquilo que é narrado;
• As imagens devem aspirar a serem uma obra de arte.

G: E eu acrescento:

• Que implique o/a leitor/a de alguma maneira, que não o/a deixe indiferente;
• Que o ritmo da melodia esteja em sintonia com a história que conta;
• Que o código utilizado, tanto no texto como na imagem, seja adequado a quem se destina;
• Que te ajude a sentir, imaginar e descobrir, que te seduza.

Muitíssimo obrigada aos dois! Foi um prazer trabalhar convosco… repetiremos!

Tradução de Beatriz Carvalho