‘DURMO NA RUA’: Laia de Ahumada e Cinta Fosch dão voz às pessoas sem-abrigo

Laia de Ahumada e Cinta Fosch voltam a juntar-se neste novo livro: depois do êxito de OBRIGADOS A PARTIR (que recebeu recentemente três prémios internacionais), com seis entrevistas a jovens migrantes, a mesma dupla de autora e ilustradora dá agora visibilidade àqueles que não têm teto ou habitação digna, os mais excluídos da sociedade. Por meio de uma conversação honesta e ilustrações simbólicas, devolvem-lhes a voz e a dignidade.

 

No final de outubro chega às livrarias o segundo título da coleção AKIVIDA: histórias para transformar o olhar, pensada para mostrar situações da vida real que contrastam com aquilo a que estamos habituados e que enriquecem a nossa perspetiva sobre o mundo. Desta vez, coloca em cima da mesa a situação das pessoas sem-abrigo, uma realidade que tem aumentado nas nossas cidades e que, no entanto, não queremos ver.

DURMO NA RUA é um livro de entrevistas a quatro homens e duas mulheres que vivem ou já viveram, em algum momento da sua vida, na rua. Os seis tinham família e um lar. Por motivos muito diversos, quebrou-se o círculo familiar e de amizades, e, de um dia para o outro, deram por si sem casa e tendo de enfrentar uma série de obstáculos que os fizeram alterar as suas prioridades: as suas preocupações passaram a ser encontrar um lugar seguro onde passar a noite, tratar da higiene pessoal ou guardar os seus pertences e comer gratuitamente numa cantina de apoio social.

Recorrendo ao formato entrevista, que permite à autora ir contextualizando aquilo que contam os entrevistados, vai-se explicando como é viver na rua e o que pode conduzir uma pessoa a essa situação. A partir de uma conversa assente na honestidade e no respeito, revelam-se situações de violência, abandono e solidão, e também a perda de autoestima, dignidade e alegria que afeta as pessoas sem-abrigo. A autora quer perceber se é possível sair da rua, e por que motivo custa tanto consegui-lo.

Acontece que Laia de Ahumada, além de ser doutorada em filologia catalã e escritora, foi impulsionadora de vários projetos sociais, como o Centre Obert Heura para pessoas sem-abrigo, à frente do qual permaneceu vinte anos. Entre as duas dezenas de obras que publicou encontram-se seis livros de entrevistas a pessoas ligadas ao mundo da interioridade, da cultura, da vida rural e da exclusão social (entre eles, OBRIGADOS A PARTIR, publicado em 2024 pela AKIARA). Este livro assenta-lhe, pois, como uma luva, graças à sua capacidade de escuta e porque trata de uma realidade que conhece a fundo.

O livro não seria o mesmo sem as poderosas ilustrações de Cinta Fosch, que convidam a um olhar demorado pela simbologia e referências que contêm. Com formação em história da arte, design gráfico e ilustração, Cinta Fosch especializou-se em ilustração de imprensa e editorial; mais concretamente sobre direitos humanos, pensamento e mundo contemporâneo, que são precisamente os ingredientes reunidos nas imagens deste livro.

Com uma paleta de tons azuis e negros, pavimentos urbanos aos quais falta uma peça, «ervas daninhas» que crescem nos interstícios do chão ou pranchas de banda desenhada que reproduzem rotinas diárias de quem não tem o mais básico, a ilustradora convida-nos a mergulhar na vida inóspita das ruas para abandonarmos os preconceitos e passarmos a ver tudo com outros olhos.