Chorei pela primeira vez há quarenta anos, numa cidade da periferia de Barcelona.
Passado algum tempo esqueci-me de como se chorava e como se falava. Do que me lembrava era de como se desenhava, de modo que desenhava as palavras que não me saíam e as lágrimas e os gritos que tinha engolido. E também sóis, bruxas, casas, princesas e macacos.
Isso foi há muito tempo e agora só me esqueço de falar às vezes e aprendi a chorar de muitas maneiras diferentes. Até inventei algumas novas como, por exemplo, a fazer o pino.
Um dia, descobri que podia ir a uma escola para aprender a ser ilustradora e atirei-me de cabeça. Acho que era uma escola mágica.
Continuo, portanto, a desenhar e agora também o faço para ganhar a vida.
Comecei por desenhar padrões para estampar em tecidos, mas agora o que mais faço é ilustrar contos e, às vezes, até me atrevo a escrevê-los.
Também desenho para chorar, quando as lágrimas não me saem, ou para falar, quando não encontro as palavras. Muitíssimas vezes faço-o para brincar.
Gosto imenso quando a casa se inunda e é preciso improvisar barcos com os móveis.