Fran Pintadera

  • Escritor

Nascer numa ilha é algo curioso. Penso sempre que, se tivesse nascido uns passos mais para a direita ou uns passos mais para a esquerda, teria saído das ruas de Las Palmas de Gran Canaria e teria nascido no mar. E então, agora, talvez fosse um peixe. Isso proporcionar-me-ia coisas estupendas, como ver recifes de coral ou mergulhar durante horas sem ter de vir à superfície para respirar. Contudo, não poderia escrever contos ou, se o fizesse, seriam apenas papéis molhados. Mau negócio.

Felizmente, nasci em terra firme, onde cedo peguei num lápis e comecei a escrever histórias. A minha primeira linguagem escrita foi a poesia, uma maneira precisa e deliciosa de comunicar comigo mesmo, com os que estão perto de nós e com quem nunca conheceremos. Depois, vieram os contos, as novelas, o teatro e qualquer forma artística na qual a palavra se sentisse confortável.

Porque choramos? nasceu do instinto. Às vezes, procuramos as palavras exatas para contar uma história; mas, noutras ocasiões (e estas são as melhores), são elas que nos levam para a secretária e nos ditam o que escrever. Neste conto, com ar de poema, procuro responder à pergunta de um menino que podia ser o meu filho ou o meu eu de há alguns anos. Ou talvez, sem o saber, eu tenha escrito este conto unicamente para ti.

(biografia de PORQUE CHORAMOS?)

 

Vivo num vale com cheiro a laranja. Em pequeno, curiosamente, esta era a minha cor favorita.

Hoje, uns quantos anos depois, desfruto de outras cores que surgem no meu caminho: o vermelho que habita o fogo, o rosa que veste as amendoeiras, a tinta negra sobre a folha em branco.

Tal como acontece com este livro, eu também tive e tenho os meus medos. Se me dás licença, vou contar-te um deles:

Durante algum tempo, quando acabava de escrever um conto ou um poema, achava que seria o último. Que talvez tivesse ficado sem ideias. Sem nada que contar. Tinha medo de que não me ocorressem mais histórias.

Naquela época, pensava que os relatos e os versos que escrevia surgiam da minha cabeça. Pouco a pouco, aprendi que as grandes histórias não vêm da mente, mas sim da vida. E que a vida é inesgotável.

É por isso que este medo já se foi. Porque estou convencido de que enquanto houver fogo e amendoeiras para contemplar, continuarão a nascer histórias que mereçam ser contadas.

(biografia de PORQUE TEMOS MEDO?)

 

Desde que foi publicado o meu primeiro livro, em 2013, escrevi muitas histórias e versos em que as aves são protagonistas. No entanto, até agora nunca tinha escrito nada sobre plantas. Com toda a honestidade, sinto-me um grande desconhecedor do seu universo. Por sorte, os autores não andam cá para contar o que sabem. Acontece mais o contrário: os protagonistas das nossas histórias e seus enredos pedem-nos para ser contados, para os conhecermos. Para aprendermos com eles.

O Colibri, com a sua vontade inesgotável, é um grande professor. É esse motor que me leva a aventurar-me em várias disciplinas literárias: desde a criação de contos para a infância à dramaturgia atrevida de uma obra de teatro social. Com o bater acelerado das suas asas, também me aproxima de cenários longínquos para narrar as minhas histórias. E, claro, faz-me ter sempre a mala pronta.

O surgimento deste álbum convida-me a reparar na Verbena. Com esta história espero aprender com a sua pausa e com o ritmo calmo da sua seiva.

(biografia de VERBENA E COLIBRÍ)

 

Se eu fosse um pássaro, teria de ser uma escrevedeira, claro. Assim, além de voar, podia continuar a encher cadernos de versos. Ou melhor, seria uma andorinha para voltar aos sítios aonde fui feliz: ao palco, ao lar,
à estrada… Ou uma gaivina-de-bico-laranja? Também gosto de andar despenteado. E de música! Adoro música! Então… um tordo-músico?
Espera aí… talvez um pica-pau! É maravilhoso estar perto da madeira!
Ou, se calhar, um canário, porque alguma razão haverá para eu ter nascido nas ilhas Canárias. E será que existe algum pássaro que conte histórias? Ai, não sei… Enquanto penso nisso, vou continuar a olhar para o céu.

(biografia de A CANÇÃO DO PÁSSARO TOC)

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