O livro FILAS DE SONHOS, escrito pela portuguesa Rita Sineiro e ilustrado pela catalã Laia Domènech, ganha o XXIII Prémio Llibreter 2022 na catagoria de Álbum Ilustrado.
A notícia deu-se a conhecer no dia 30 de junho durante um encontro com jornalistas pela manhã, e celebrou-se pela tarde com a Festa do Prémio Llibreter, que teve lugar no auditório Ramon Trias Fargas da Universitat Pompeu Fabra de Barcelona.
O Prémio Llibreter é um prémio concedido pelos próprios livreiros, os que melhor conhecem tudo o que se publica. Tenta destacar obras de grande valor literário que merecem mais atenção por parte do público e dos meios de comunicação social. Desde há três anos para cá, são os comités de avaliação de cada categoria, compostos por livreiros, que propõem as obras nomeadas, que depois as mais de trezentas livrarias catalãs deverão votar. Curiosamente, nesta edição de 2022, todas as premiadas foram mulheres, e duas delas portuguesas: Rita Sineiro, autora de FILAS DE SONHOS, e Ana Pessoa, autora de Mary John (publicado originalmente pela Planeta Tangerina e na Catalunha pela L’Altra Tribu).
Rita Sineiro viajou do Porto até Barcelona para estar presente na entrega do Prémio. No seu discurso de agradecimento, recordou todas as crianças que perdem a vida ao tentar cruzar o Mediterrâneo; as crianças fechadas em campos de acolhimento; as que morrem congeladas em tendas; as que têm de cruzar fronteiras atrás de fronteiras: “Não existe nós e eles. Os nossos filhos e os deles. Apenas há um nós, um mundo nosso que precisa de mudar. E os livros desempenham um papel essencial nesta transformação do mundo.”
A ilustradora Laia Domènech comentou que teve de desenhar muitos muros e muitas filas, e que oxalá desaparecessem todos os muros e pudéssemos sempre continuar a sonhar.
E a editora portuguesa radicada em Barcelona há 22 anos, Inês Castel-Branco, explicou que se trata de um livro cozinhado em lume brando, já que a autora demorou 4 anos a dar o texto como finalizado, depois de ter visto a imagem do pequeno Alan Kurdi afogado numa praia da Turquia (2015) e de ter prometido a si mesma que nunca o esqueceria. Laia Domènech demorou outros dois anos a ilustrá-lo. Durante todo este processo, as duas documentaram-se muito a fundo sobre a situação dos refugiados, e procuraram a melhor maneira de mostrá-lo por meio da beleza, da poesia, até mesmo da ironia (para dissimular a indignação interior que este tema desperta em nós).
FILAS DE SONHOS foi nomeado para o Prémio Llibreter no final de abril, um mês depois de ter sido publicado pela primeira vez. Desde o inicio que foi muito bem acolhido pelas livrarias de Portugal e Espanha, tendo esgotado a primeira edição em poucas semanas. Também tem despertado o interesse internacional: já vendemos direitos do livro para o Brasil, a Alemanha e Coreia do Sul.
A autora Rita Sineiro comentava, numa entrevista ao Público: “Se este livro que escrevi (e faço a mediação) na primeira pessoa for de alguma forma escutado também na primeira pessoa, essa primeira pessoa que nos leva a calçar os sapatos ou os pés descalços do outro, então já terá valido a pena a vergonha, a raiva e a tristeza que lhe serviram de começo. Já a vida do pequeno Alan, como a vida de todas as crianças refugiadas, terá sido — será sempre — perdida em vão. Sobretudo enquanto a mobilização para proteger fronteiras seja infinitamente mais poderosa do que a vontade de salvar vidas humanas.”